#016 Como aliviar a ansiedade em relacionamentos
Quem nunca checou o telefone 1.000 vezes esperando por mensagem? Ou mandou muita mensagem quando estava p da vida com o outro? 🙋🏽♀️
Oi, amiga! Mulher, me embananei toda na semana passada. Estava na correria para ir para o módulo da pós-graduação e esqueci do nosso papo, acredita? Mas agora estamos aqui de novo. O que você fez de bom nessa semana passada? Quer um café? Acabou de ficar pronto. Por aqui, muita coisa acontecendo, impactos da economia mundial, e algumas ansiedades. 🇺🇸
Você é ansiosa? Eu já fui bastante. Nossa, como eu detestava ficar dentro da minha cabeça, pensando 50.732 possibilidades para uma situação que eu estava preocupada e que no final não dava em nada. Podia ser o que o chefe ou namorado iria me dizer, se ia chegar atrasada no trabalho… Pura perda de tempo e de energia. 💩
Aquela sensação de estar sendo como sacolinha plástica ao vento, sem qualquer centramento, me deixava sem energia nenhuma. Pior, minhas emoções ficavam à flor da pele e tudo ao meu redor parecia mais difícil.
E quando o date foi bom, o cara fala que quer te ver de novo, fala que vai ligar e não liga? AAAARRRGHHHHHHHHH!
Ficar checando o telefone a cada minuto, a mente criando 387.625 cenários para tentar entender o que pode ter acontecido para o cara ainda não ter entrado em contato. “Como assim?! Todo mundo vai ao banheiro. Dá para mandar mensagem quando se vai ao banheiro!”. E com certeza, quanto mais o tempo passa, menos paciente e compreensiva a gente fica. “Ele nem é tudo isso. Para ser bem sincera, ele foi meio chato quando começou a falar de X”. Bem no estilo ‘quem desdenha quer comprar’, da fábula da raposa e as uvas.
Se tem uma coisa que eu me recuso é sofrer em vão. Eu não sou masoquista, não gosto de perder tempo sendo ou estando infeliz.
Foi aí que decidi que eu precisava olhar para essa ansiedade e achar uma solução. Precisava de algo, uma espécie de espaço ou um colchão amortecedor entre a emoção (ansiedade, preocupação, medo, etc.) e a reação a essa emoção.
A solução para mim foi a combinação de duas práticas: a meditação estilo mindfulness (que significa estado de presença. Uso a observação da respiração como âncora da minha prática) e exercícios de imagem compassiva.
Em mindfulness a gente presta atenção a tudo o que vem, seja no corpo ou na mente, sem se apegar a nada. Só observamos. A forma mais simples de começar é reservar um tempinho, nem que seja só 5 minutos ao dia, para sentar em silêncio, fechar os olhos ou deixar o olhar bem relaxado e baixo, e prestar atenção ao ar que entra e sai das narinas. A gente observa se as narinas recebem o mesmo volume de ar, se os cabelinhos do nariz se movimentam, se sentimos o ar no topo do lábio ao expirar, e todas as outras sensações físicas que vem da respiração. Também observamos os pensamentos, o desconforto, a raiva, a tristeza, a alegria, a preocupação, a ansiedade, todas as falas internas, o que for. Não há julgamento do que vem. A gente só observa e continua respirando no ritmo normal. Se algo vem e a gente engaja com aquilo, começa a pensar e confabular, e só percebe depois, não tem o menor problema. É só reconhecer que aconteceu, deixar ir, e continuar com a atenção na respiração.
Quanto mais a gente pratica mindfulness, mais espaço interno a gente cria. Quando digo espaço interno quero dizer um espaço entre o notar a emoção viva na gente e agir com base nessa emoção. Nesse espaço a gente consegue ‘pescar’ a emoção antes dela ‘dar o bote’. Percebendo essa emoção se mexendo no nosso corpo/mente, a gente tem mais tempo para decidir como vai engajar com ela. Engajar com a emoção passa a ser uma escolha/autonomia, e não uma reatividade/impulso.
Quanto mais…. mais
A meditação por si só já me ajudou bastante no processo de lidar com a ansiedade, mas o que foi a cereja do bolo foi a prática da imagem compassiva. Para entender como isso funciona de verdade tenho de te explicar brevemente sobre como alguns mecanismos do cérebro funcionam. Aliás, vai ser uma explicação beeeeeeem simples e muito possivelmente com erros por conta da simplificação. Já peço desculpas de antemão a todas as possíveis neurocientistas que lerem esse post! 😜
O nosso cérebro tem uma parte bem primitiva e uma parte mais ‘moderna’. Cientistas acreditam que a parte mais primitiva, chamada cérebro reptiliano, apareceu pela primeira vez em peixes há cerca de 500 milhões de anos. Esse cérebro continuou se desenvolvendo nos anfíbios, ficou ainda mais avançado nos répteis por volta de 250 milhões de anos atrás. O sistema límbico (que lida com as emoções de forma nua e crua, digamos assim) apareceu nos mamíferos pequenos por volta de 150 milhões de anos atrás.
A gente tem três sistemas de regulação emocional no nosso cérebro: dois que fazem parte do cérebro primitivo (ameaça/autoproteção, e incentivo/busca de recompensa) e um que faz parte do cérebro mais moderno (o sistema calmante e de contentamento).
Faz sentido agora porque a gente às vezes fica bravo como bicho, né? 😳
Enfim, em todos esses sistemas de regulação emocional, o mecanismo é o mesmo: quanto mais a gente usa, mais forte ele fica. É igual na academia, quanto mais a gente treina, mais os músculos ficam mais definidos.
Isso significa que quando a gente tem e alimenta pensamentos ansiosos, de medo, de raiva, etc. mais forte o nosso sistema de ameaça/autoproteção fica. Ou seja, ficamos mais propensos a essas emoções. Na mesma lógica, quanto mais pausa, calma e racionalidade a gente consegue ter quando as emoções fortes batem, mais espaço interno geramos, e assim ficamos mais hábeis para escolher como responder e lidar com as emoções desagradáveis, sem reagir por impulso ou ser engolida por ela.
O pulo do gato
Bora levar esse sistema calmante e de contentamento pra academia? 😂 Entra em cena o uso da imagem compassiva.
Escolha uma imagem que te traga muito conforto interno. Para algumas pessoas isso é a imagem de uma praia, ou montanha, um animal, ou uma pessoa (que pode ser conhecida sua ou não). A minha imagem compassiva é uma vovó gordinha, de cabelos brancos e curtos, e usa um avental cobrindo o vestido.
Toda vez que você tiver uma emoção forte e/ou desagradável, você traz essa imagem à mente e conversa com ela. Essa sua imagem sempre vai ser o mais compassível possível com as suas emoções, ao mesmo tempo que não vai passar a mão na sua cabeça se você fez algo que você sabe que é errado/moralmente questionável. O objetivo é apaziguar, criar calma e racionalidade, não competição, desprezo, etc.
Hoje mesmo tive de usar a minha imagem compassiva. Eu estava conversando com a moça que ajuda na limpeza da casa e estávamos falando de outra cliente dela, também brasileira, que trabalha numa multinacional. Assim que ela foi embora, percebi uma sensação desagradável, uma espécie de tristeza, mas também um sentimento de vergonha. Como se eu não tivesse sido boa o suficiente para ter uma carreira em uma multinacional também. Entra em cena a minha vovó compassiva. O papo foi mais ou menos assim:
Eu: “Puxa, fiquei com vergonha. Me achei incompetente, não inteligente o suficiente. Estou aqui no Reino Unido há 18 anos, eu poderia estar melhor”.
Vovó: “Ah, minha filha. Eu entendo, faz tanto sentido você querer estar melhor. Você tem família, tem o desejo de contribuir mais na casa. Mas, filha, você já viveu tanto, passou por tanta coisa nesses 18 anos. Você já foi refugiada, já foi convidada para trabalhar no Financial Times, você já morou em vários países dentro do Reino Unido. Você teve tantos relacionamentos diferentes, tantas experiências práticas e emocionais sobre o que funciona e o que não funciona nesse universo. E isso é ouro e diamante nessa sua nova fase da vida”.
Eu: “[silêncio, processando] É verdade. Não é só a questão financeira que conta. Eu realmente vivi e aprendi muito. E esses aprendizados me ajudam tanto nessa nova fase profissional que estou! Eu nem quero uma carreira corporativa, isso até pode me dar mais status, mas o que eu quero é ter mais flexibilidade, eu quero contribuir para o amadurecimento emocional das pessoas. E eu estou em um dos melhores momentos da minha vida. Obrigada por me ajudar a perceber isso, vózinha!”
Vovó: “Estou sempre aqui para você, minha filha”.
Saí dessa conversa revigorada, otimista com o futuro e confiante na minha trajetória até aqui. ❤️🥰
O objetivo da conversa com a imagem compassiva não é necessariamente você sair dela se sentindo bem. Isso é um excelente bônus. Eu diria que os principais reais objetivos são entrar em contato com as emoções reais que estamos sentindo (sem drama e dramatizações) e fortalecer o sistema calmante e de contentamento, ao não usar o sistema de ameaça e autoproteção.
Quanto mais você usar a meditação mindfullness e a imagem compassiva, mais você vai conseguir perceber e sentir as suas emoções como elas são. Você vai entrar menos na mente dando desculpas e explicações, vai se distrair menos com melodramas e vai transformar menos as emoções em batatas quentes e fazer de tudo para fugir delas.
E com você?
Quando você está ansiosa, como você reage geralmente?
E quando o sentimento é raiva consigo mesma?
Quando a emoção desagradável é direcionada ao outro (por exemplo, você está brava ou chateada com alguém), como você lida com as suas emoções?
Você percebe que você tem se tornado mais paciente, mais empática, mais leve ou o oposto dada as suas reações? Não tem certo e errado, é só o que acontece com você. 🤗
Deixa eu saber o quanto esse tema te impactou. Comenta aqui o que você achou!
Adorei essa reflexão! Já tinha ouvido falar dos benefícios do Mindfulness há bastante tempo, mas só agora estou tendo um contato mais profundo com a prática - especialmente por conta da minha pós-graduação, que traz esse tema com bastante ênfase. Os exercícios de respiração têm me ajudado muito no dia a dia, e comecei a incluí-los também na rotina da minha filha, que foi diagnosticada com transtorno de ansiedade. Já percebo bons resultados com ela, o que me deixa muito animada.
Achei ótima a dica sobre a imagem compassiva! Vou praticar. Acho curioso que, quando preciso me acalmar, nada funciona melhor do que pensar na pureza e ingenuidade dos meus cachorros. Aquele olhar puro me enche de amor e relaxamento. Só não sei se consigo imaginá-los me dando conselhos... rs. Mas juro que vou tentar!
Que bom que gostou, Van! Mindfulness é vida!!! A imagem compassiva já me poupou horas de masturbação mental, recomendo pra todo mundo 🥰